O Espírito Santo é um estado que se orgulha de abrigar duas
capitais. Uma é conhecida, fica numa ilha. A outra, com uma pompa maior, é a
capital secreta do mundo.
É secreta, mas com toda a certeza você já ouviu falar da
gente. Cidade lembrada desde Mc Colombiano cantando “Cachoeiro, é nós que tá a
vera” nos bailes do Zumbi e Village, até aquele carinha que faz show na Globo
todo fim de ano com “Meu pequeno Cachoeiro”. A Selita, cooperativa marcante que
revolucionou a infancia e a juventude cachoeirense que não toma Toddynho, e
sim, Selitinho. E tem mais, a única fábrica especializada em pios de ave da
America Latina é de Cachoeiro. Assim como a maior empresa de transportes
terrestes que este continente já teve, a Viação Itapemirim.
E Itapemirim, por sua vez, é nosso sobrenome, vem do rio
Itapemirim que rasga a cidade dividindo-a em duas, e sempre cria discussão nas
conversas de bar acerca da enchente de 2010 ter sido maior que a de 1979. Mas
ainda sim, é um rio bem tratado. Cachoeiro é o único município capixaba que
possui um sistema de fornecimento de água e coleta de esgoto privado. Se bem
que, sou obrigado a concordar com a opinião de um nobre pipoqueiro da Praça de
Fátima que diz não acreditar que a sujeira de Cachoeiro todo está passando
naqueles tubinhos verdes que colocaram na beira do rio.
Enchente de 2010: água do rio foi até a Praça Jerônimo Monteiro.
Cidade bela e polêmica essa Cachoeiro. Como não se lembrar
das grandes exposições no parque Carlos Caiado Barbosa, onde montavam um parque
de diversões cheio de alegria e brinquedos de infraestrutura duvidosa. Cavalos,
carneiros, bodes, perus, galinhas d’Angola e bois, muitos bois eram expostos no
parque. E falando em boi, já imaginou se tirassem eles do pasto na zona rural e
os colocassem no centro de uma cidade, sozinhos, no meio da rua, junto das
pessoas? Sim, já fizeram essa experiência aqui e com direito a final polêmico,
o vídeo no youtube tem quase mais views que as músicas do Roberto Carlos.
Bois se aventurando no centro de Cachoeiro.
Quem se impressiona com os bois bravos no centro é por que
não conhece a torre de fazer chover que também já fez história por lá, e foi
até pro Jornal Nacional.
Aposto que sua cidade nunca teve uma torre de chuva como essa.
Mas o que encanta nessa cidade de ruas apertadas é sua
auto-estima e personalidade, que ajuda, a manter viva a arte local e promover a
cultura cachoeirense. Fomos a primeira cidade do estado a ter uma revista de circulação
mensal falando exclusivamente sobre cultura, a Cachoeiro Cult. Temos a revista
da sociedade, a Se7e Dias, que sempre nos informa o que os ricos da cidade
estão aprontando. A Folha do ES, que mostra a parte policial, política e
econômica local e consegue causar polêmica nas três partes. A revista SportNews
que mostra as notícias do Castelo FC, Atlético de Itapemirim (o CAI), o
Cachoeiro FC e também o time de futebol mais querido e garfado do Espírito
Santo, o Estrela do Norte Futebol Clube.
La Bombonera capixaba, o Sumaré, casa do Estrelão!
É provável que o Pico do Itabira se sinta orgulhoso de estar
dentro da cidade e de ter o privilégio de acompanhar de perto histórias que só
poderiam acontecer aqui. Alguns acham bairrismo exacerbado. Isso não é
bairrismo, é Cachoeirismo! E resumindo o sentimento desse texto, a frase célebre
de Rubem Braga, o maior cronista do Brasil: “Modéstia à parte, sou de Cachoeiro”.